“Por que você está abatida, ó minha alma?
Por que se perturba dentro de mim?” (Salmo 42.5).
Depressão
é um quadro clínico complexo, em que se destaca principalmente uma
queda acentuada de humor e perda de energia ou prazer nas tarefas
habituais. É um conjunto de sofrimentos — sintomas — que se caracteriza
por tristeza ou irritação, perda da vontade de fazer coisas ou até de
viver. Pode vir acompanhado de desânimo, mesmo para as atividades
prazerosas, perda ou ganho de peso, dificuldade para dormir (ou
necessidade exagerada de sono), sensação de agitação ou de lentificação,
fadiga ou falta de energia, sentimento de culpa excessiva, dificuldade
para se concentrar e tomar decisões, bem como pensamentos repetidos
sobre a morte. Na depressão, este conjunto de sofrimentos — ou parte
dele — está presente na maior parte do dia, em quase todos os dias.
Mas
não devemos confundi-la com a tristeza que acompanha situações de luto
ou grandes frustrações e perdas pessoais. Esta é natural e esperada, e
depois de um período de readaptação ela é superada e não ganha a
dimensão de uma depressão. O fato de ultimamente haver um aumento dos
casos de depressão, para muitos estudiosos, não é coincidência: isso
está relacionado ao mal-estar da sociedade atual, especialmente à
desconsideração dos ritmos necessários para uma vida com qualidade. Por
isso é preciso compreender as causas da depressão nas várias dimensões
da vida humana, incluindo aspectos biológicos, psicológicos,
espirituais, filosóficos e também sociais e econômicos.
Segundo
dados da Organização Mundial da Saúde, a depressão é um problema de
saúde pública e poderá ser o maior mal do século 21. Em 2001, 30% da
população mundial já sofria desta doença, mesmo sem saber. As
consequências da depressão são desastrosas em diferentes áreas:
- Na família: desagregação, incapacitação para as relações familiares e para o cuidado com os demais membros;
- Na esfera do trabalho: diminuição da capacidade produtiva e aumento de faltas;
- Nos serviços de saúde: aumento da procura por atendimento e dos gastos com medicamentos e hospitalização.
Está
incorreto dizer que um cristão não sofre de depressão, ou que basta ter
fé para vencê-la. Da mesma forma, a presença da depressão não significa
falta de fé. Todos estamos sujeitos a adoecer, tanto física quanto
emocionalmente — podemos sofrer, por exemplo, de pressão alta, diabetes
ou asma, sem que tenha nos faltado a fé. Ao mesmo tempo, é verdade que a
espiritualidade é um recurso importante para ajudar a vencer o
desânimo, e um relacionamento pessoal com Deus pode ajudar muito para
que a pessoa deprimida se sinta acompanhada, inclusive durante um
tratamento, quando for o caso. Mas também é verdade que uma imagem de
Deus excessivamente severa pode adoecer em vez de ajudar na melhora.
A
Bíblia também apresenta pessoas com sofrimentos parecidos com o que
hoje chamamos de depressão. Elias (um “homem semelhante a nós, sujeito
aos mesmos sentimentos”, Tiago 5.17) mostra seu desânimo ao fugir de
Jezabel (1Reis 19.1-8). Noemi foi uma mulher que experimentou profunda
amargura por suas perdas (Rute 1.20-21). Vários Salmos também expressam
esse sofrimento e a busca de consolo junto a Deus. Alguns estudiosos
identificam ainda uma relação com a raiva, na qual a depressão estaria
relacionada com “engolir a própria raiva”, sem tratar dela com outras
pessoas ou com Deus.
A Bíblia sugere que a criação de filhos
conduzida com raiva pode produzir esse estado de desânimo. Sabemos que
Deus pode usar pessoas — muitas vezes com preparo profissional — e
também medicamentos para o tratamento e a cura desta doença, e que um
recurso não exclui os outros. Portanto, não deixe de procurar ajuda
qualificada, se sentir necessidade, se perceber que esse sofrimento está
lhe retirando toda vontade de viver.